Mata-mata ou pontos corridos?

Gustavo Lopes Pires de Souza

Restando cinco rodadas para o final do Campeonato Brasileiro, o título já está praticamente definido, já que com a vitória sobre o Atlético, o Corinthians abriu 11 pontos e somente restam 15 em disputa.

Apesar de ainda haver algumas equipes lutando contra o rebaixamento e outras para acessar o G-4, a definição do título reascende o debate acerca da fórmula de disputa.

Entre 1971 e 2002, o Campeonato Brasileiro nunca repetiu uma fórmula e sempre teve fases de mata-mata. Após 2003, a fórmula sempre foi a de pontos corridos e, desde então, instaurou-se o debate acerca da emoção (ou falta dela) no modelo atual de competição.

O campeonato por pontos corridos faz justiça à equipe mais regular e que se planeja melhor. À exceção do Flamengo, em 2009, que conquistou o título embalado na reta final, todos os demais campeões foram clubes que montarem um elenco mais amplo e com uma estrutura mais sólida.

Além disso, estatísticas mostraram que o torcedor brasileiro se acostumou a comparecer aos estádios em competições que não possuam fases finais, já que os três últimos campeonatos mata-mata – 2000, 2001 e 2002 – tiveram médias de 11.546, 11.400 e 12.886 pagantes, respectivamente, e, em 2014, a média foi de 16.555.

Por outro lado, nas competições mata-mata a imprevisibilidade em se garantir um título ou uma classificação em um único lance é extremamente emocionante, o que acaba por criar lances lendários e jogadores míticos.

Entretanto, apesar de possuir uma média de público menor, os jogos das fases decisivas têm estádios lotados e atraem toda a atenção da mídia.

Paralelamente à discussão sobre a melhor fórmula de competição, há uma questão jurídica relevante, pois o artigo 8º, II, do Estatuto do Torcedor, estabelece que pelo menos uma competição de âmbito nacional tem que ser em sistema de disputa em “que as equipes participantes conheçam, previamente ao seu início, a quantidade de partidas que disputarão, bem como seus adversários”, o que, a priori define o sistema de pontos corridos.

Caso prevaleça essa interpretação, o Estatuto do Torcedor proíbe a volta do mata-mata e sedimenta o debate.

Contudo, em uma competição mata-mata se sabe exatamente os adversários de 90% da competição e tem conhecimento do restante que estaria, apenas, pendente de confirmação desportiva.

O sistema de disputa por pontos corridos tem sua origem na Europa, onde os países possuem dimensões bem menores. O Brasil tem uma vastidão continental. Clubes como o Sport, por exemplo, possuem um desgaste incrível com viagem, pois todos os demais clubes da Série A estão nas regiões Sul, Sudeste e o Goiás, na Centro-Oeste. Será que o Sport, que começou também a competição, não teria perdido fôlego pelo cansaço com as viagens?

O futebol brasileiro precisa se reinventar dentro de suas peculiaridades geográficas e culturais. O Campeonato Brasileiro precisa ser, de fato, nacional. O modelo norte-americano (outro país de dimensões continentais) viabiliza a participação no certame nacional de equipes de leste a oeste.

O futebol brasileiro precisa se unir de norte a sul. Todas as cores, todas as torcidas. Todos os Brasis. Fomos os melhores do mundo atentos às nossa peculiaridades regionais. Enquanto o mundo se preocupava com competições nacionais (e internacionais), o brasileiro se preocupava com a rivalidade local, com os estaduais.

É fato que hoje não há mais espaço para grandes campeonatos estaduais, mas há espaço para o futebol brasileiro se reinventar e criar sua própria identidade. Só assim voltaremos ao topo do mundo.

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