Gustavo Lopes Pires de Souza
Entra ano e sai ano, o tema da violência nos estádios de futebol brasileiros permanece atual. Desta vez, os tristes e lamentáveis fatos se deram no clássico mineiro entre Atlético e Cruzeiro.
Logo, antes da partida, quatro torcedores atleticanos foram baleados na Região Leste de Belo Horizonte, enquanto esperavam por um ônibus com destino ao estádio para acompanhar o clássico. Este ponto é um tradicional local de embarque de atleticanos durante os clássicos contra o Cruzeiro.
Dentro do estádio também houve violência, com invasão e saque de um dos bares do Mineirão, quebra de cadeiras e disparo de bombas e rojões no gramado. A partida chegou a ser interrompida pelo árbitro.
Os atos de violência dentro do estádio levaram a Procuradoria do STJD a instaurar denúncia contra Cruzeiro e Atlético, na qual os clubes responderão por desordens e lançamentos de objetos, e podem ser multadas em até R$ 200 mil e perder até 20 mandos de campo por infração, nos termos do art. 213, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.
Novamente, o jogo ficou em segundo plano e todos os debates tem se concentrado nos incidentes de violência. Mais uma vez há um jogo de empurra-empurra e, provavelmente, ninguém assumirá a culpa e medidas efetivas não serão tomadas.
Tenho estudado a relação dos clube-torcedores e a violência nos estádios de futebol há cerca de dez anos e durante uma década de estudos, percebemos pouquíssimo avanço prático e um crescimento assustador da violência.
A Espanha, por exemplo, na década de 90 criou normas para conter a violência e conseguiu em um curto período de tempo se tornar vitrine mundial nesse aspecto. Medidas de segurança adotadas pela Comissão Nacional contra a Violência nos Espetáculos Esportivos fizeram com que o corpo de segurança do Estado tivesse plena fiscalização e controle dos torcedores dentro dos estádios e em suas imediações, por meio de câmeras de vídeo e um trabalho sincronizado entre os diferentes corpos de segurança que trabalham durante o evento esportivo.
Infelizmente, nossa sociedade está em uma situação onde a violência nos acompanha desde a infância . A perda sistemática de valores, as oportunidades frustradas, as privações e as diferenças sociais cada vez mais marcantes, dentre outros fatores, tem cultivado a violência nos estádios como uma válvula de escape. Dessa forma, o Estado tem que atuar de forma efetiva e com verdadeira repreensão e prevenção. Todo o demais é tapar o Sol com a peneira.
Para tanto propõe-se as seguintes medidas:
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Incentivo à pesquisas sobre o tema, bem como investimentos em treinamento e formação de polícias especializadas na prevenção da violência nos eventos de massa.
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Criação de uma unidade policial autônoma especializada em eventos esportivos de massa.
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Investimento em programas sociais que gerem emprego e diminuam as desigualdades sociais.
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Criar leis que estabeleçam infraestrutura nos estádios de futebol e os direitos dos consumidores de eventos esportivos, bem como fiscalizar seu cumprimento.
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Acabar com a sensação de impunidade.
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Punir dirigentes, técnicos, jogadores, policiais, membros da imprensa e torcedores que provoquem tumulto o deem declarações que possa incentivar a violência e a rivalidade exacerbada entre os torcedores.
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Coibir los excessos dos agentes de segurança pública e estabelecer um constante sistema de avaliação de sua atuação.
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Implantar canais de denúncias anônimas sobre abusos cometidos em eventos esportivos.
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Implantar disciplinas atinentes educação esportiva nas escolas e criar campanhas de conscientização anti-violência.
Não se tratam de medidas inventadas, mas extraídas de experiências positivas em países como Inglaterra, Espanha, EUA e Alemanha e podem, de fato, extirpar a violência dos estádios brasileiros.
Portanto, meios para se combater a violência nos estádios de futebol, existem, para tanto, é imprescindível uma atuação estatal mais efetiva, eis que a fórmula atual está flagrantemente ineficiente.