Os 'donos' das arenas e o futebol no Brasil

 Amir Somoggi

A menos de 100 dias da Copa do Mundo no Brasil, com a conclusão das obras nas arenas e em plena disputa dos campeonatos estaduais, com seus públicos baixíssimos, é necessário fazer uma reflexão sobre essa dura realidade do futebol no Brasil.

Em grande parte das 14 novas arenas, incluindo Grêmio e Allianz Parque, os clubes ou setor público têm como sócios na exploração dos empreendimentos grandes empreiteiras. O volume de investimentos nas arenas superam R$ 9 bilhões e as empresas de construção em muitos casos ficaram com a exploração comercial por um longo período de tempo.

Há casos em que os clubes são sócios, como Grêmio, Palmeiras e Internacional, em outros atuam de forma cooperada como os casos de Flamengo, Fluminense, Botafogo, Cruzeiro, Bahia, Náutico, cada um com seu modelo.

Em qualquer um deles, clubes ou setor público tem parceiros com faturamento de muitos bilhões de reais e total interesse que as arenas gerem lucro como qualquer outro negócio.

Entretanto, um grave problema que as empresas têm enfrentado é a realidade do calendário do futebol brasileiro, com excesso de jogos com baixo apelo no início do ano. Todas as empresas que operam arenas no Brasil estão nesse momento percebendo que o conteúdo que possuem é inadequado para os milhões de reais que as arenas precisam gerar.

Pelos meus cálculos, uma arena com custo de construção de R$ 1 bilhão precisa gerar mais de R$ 200 milhões em receitas em média por ano para garantir o retorno do investidor. Com as arenas vazias por quatro meses do ano e com uma média de ocupação ao redor de 40% no restante do ano, é improvável que haja um retorno efetivo dos recursos aplicados. Basta analisar o público nas novas arenas durante os Estaduais para perceber isso.

Nesse momento a média de público do Flamengo no Carioca, por exemplo, é de pouco mais de 8 mil torcedores por partida, em uma arena com capacidade para 79 mil espectadores e custo de construção de mais de R$ 1 bilhão. Outro exemplo é o Grêmio que atualmente apresenta uma média de público de 10 mil torcedores no Campeonato Gaúcho e a arena uma capacidade para 60 mil espectadores.

Esses casos apenas exemplificam um grave problema que enfrenta atualmente o futebol brasileiro, baixo público nos estádios, especialmente durante os estaduais, com arenas novas em folha. Nesse cenário os investidores privados tem extrema dificuldade de obter retorno, consequência da baixa qualidade das nossas competições com o produto e conteúdo.

Para os próximos anos as discussões sobre o calendário devem incluir os interesses destes grandes grupos empresariais de construção civil, hoje novos e importantes atores do futebol brasileiro.

Os ganhos futuros com as arenas pelos clubes e investidores dependem muito de uma nova dimensão do nosso calendário de partidas, sendo essa uma decisão fundamental para a valorização do futebol no Brasil. O conteúdo atual de baixo apelo deve ser transformado em competições que atraiam  o interesse dos torcedores e patrocinadores no mercado brasileiro e internacional.
Fonte: Lance Bizz

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