Marketing de emboscada?

Sem patrocínio oficial, cachaça Tatuzinho pega carona na Copa

Novo rótulo da marca, que faz parte do grupo Velho Barreiro, mostra símbolo com bola no pé e terá vigência durante o primeiro semestre do ano. Fifa não se posiciona publicamente

A cachaça Tatuzinho, marca detida pela Indústrias Reunidas de Bebidas (IRB), tem um novo rótulo, que será distribuído por tempo limitado, durante o primeiro semestre do ano, no qual faz uma alusão indireta à Copa do Mundo. A IRB, que também é detentora de marcas como Velho Barreiro e 3 Fazendas, não figura entre as patrocinadoras do evento.

No rótulo, o animal símbolo da marca aparece com uma bola no pé e a seguinte inscrição: “O Rei da Bola”. O mascote oficial da Copa é o tatu-bola, que recebeu o nome de “Fuleco” após votação popular.

Perguntada se o rótulo faz menção ao evento esportivo que o Brasil recebe em junho, a IRB afirma, em nota, que “não necessariamente”. “O objetivo é fazer uma alusão comemorativa à marca tradicional surgida na década de 1950”, conta a empresa.

Além do uso não autorizado de suas marcas registradas, as atividades de proteção às marcas da organizadora da Copa 2014, a Fifa, se estendem a campanhas de marketing ilegais, que tentam tirar proveito do interesse e visibilidade do evento, sem necessariamente fazer uma ligação direta, implementando campanhas criativas que têm como objetivo se conectar ao evento.

“As atividades de marketing de empresas não patrocinadoras que buscam tirar proveito do enorme interesse do público no evento através da presença física no local também podem configurar o marketing de emboscada. O denominador comum de tais atividades de marketing ilegais é que elas procuram principalmente publicidade gratuita”, diz a Fifa, em nota.

Sobre se a embalagem pode ser alvo de punições da Fifa por se enquadrar no marketing de emboscada, a IRB responde que “não há o menor risco desta possibilidade”.

“A marca, tanto nominativa como fantasia (com ilustração do tatu-bola, inclusive), possui anterioridade [preferência por utilizar uma marca registrada anteriormente] e registros junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial)”, afirmou a empresa, que também informou não haver “intenção de operar sob forma de oportunidade inadvertida de associação ou marketing de emboscada”.

Perguntada sobre se o rótulo da Tatuzinho se configura nesta categoria, a Fifa responde que “não está em posição de discutir casos individuais publicamente” e esclarece que “até o momento não tomou qualquer medida legal contra a empresa”.

Criada em 1950 em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo, a Tatuzinho é conhecida por jargões veiculados na década de 1960, como: “Ai tatu, tatuzinho, me abre a garrafa e me dá um pouquinho” e ganhou nova identidade a partir de 2006. A empresa aponta que os principais mercados consumidores da marca estão situados nas regiões Norte e Nordeste do País.

Coincidência?

Para Thiago Scuro, professor do MBA em marketing esportivo da Trevisan Escola de Negócios, aponta que o caso pode, sim, se caracterizar como marketing de emboscada ao realizar uma associação com o Mundial e a bola de futebol.

Por outro lado, Scuro verifica que os argumentos em defesa de sua marca da empresa são “consistentes”. “Ter como símbolo o mascote da Copa foi uma ‘coincidência feliz’ para a marca”.

Na opinião do professor, apesar de oferecer espaço para diversas interpretações, qualquer campanha alternativa que, de alguma maneira, utiliza-se do evento para fortalecer a relação do produto com o mercado pode ser caracterizada como marketing de emboscada. “A associação na cabeça do consumidor é imediata”.

Geralmente a empresa que está cometendo a irregularidade é chamada para um acordo. Em alguns casos, pode haver punições, seja na forma de multas, previstas na Lei Geral da Copa, até proibição pela Fifa de se associar ao evento.

Tatu-bola ou galinha?

Segundo uma especialista em mamíferos, a Tatuzinho não pode nem argumentar que seu símbolo de 50 anos seja o tatu-bola, espécie do mascote da Copa. Já a espécie da marca é, na verdade, o tatu-galinha, a mais comum no Brasil, que se espalha em diversas regiões do País.

“O tatu-galinha tem uma quantidade maior de anéis na carapaça, focinho e cauda mais alongados e orelha maior. As duas espécies podem ser encontradas no País. O tatu-bola é mais raro, mas parece que está virando moda agora”, brinca a profissional, que não quis se identificar.

 

Fonte: IG

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