Bolha financeira do futebol brasileiro

Amir Somoggi

Nos últimos anos, o mercado brasileiro experimentou um crescimento de suas receitas e, como consequência, os clubes de futebol apresentaram um aumento substancial de suas despesas. Houve quem advertisse para a ocorrência de uma bolha financeira, uma vez que os clubes infelizmente aproveitaram o bom momento para gastar além das suas possibilidades.

A recente publicação dos balanços dos clubes referentes ao exercício de 2013 mostrou que a farra, o abuso nos gastos ficaram evidentes. Para realizar essa análise, levamos em conta os 12 clubes brasileiros que já publicaram seus balanços. Dos grandes, somente Vasco da Gama e Atlético-PR ainda não publicaram suas contas. Sendo assim, a análise contou com os 4 clubes de SP, 3 do RJ, 2 do RS, 2 de MG e mais o Coritiba.

As 12 agremiações analisadas experimentaram no ano passado um crescimento em termos de arrecadação de somente 6% em relação a 2012, o pior desempenho desde 2003. O valor global das receitas desses clubes em 2013 somou R$ 2,58 bilhões, contra R$ 2,44 bilhões verificado em 2012.

O fator que determinou esse crescimento abaixo das expectativas foi a redução das receitas de TV, por conta das luvas pagas pela Rede Globo em 2012, fato que não se repetiu no ano passado. As transferências de jogadores foram responsáveis pelo aumento substancial das receitas dos clubes em 2013. Sem as transferências, as receitas dos clubes em 2013 verificaram um recuo de 2%.

Houve uma mudança na participação das fontes de receitas dos clubes com a redução dos valores pagos pela emissora de tv e o aumento das transferências. Enquanto o volume de recursos pagos pela TV A TV foi reduzido de 40% para 30%, as cifras geradas pelas negociações de jogadores subiram de 15% para 24%. Um destaque positivo foi o desempenho obtido por alguns clubes com a venda de ingressos. Em alguns casos, os recursos gerados pela bilheteria em 2013 proporcionaram um aumento de receita de 7% para 10%.

Um grave problema que continua atingindo as finanças dos clubes em cheio são os custos gerados pelo departamento de futebol. As agremiações gastam muito além daquilo que arrecadam. O orçamento das agremiações no ano passado foi seriamente prejudicado pelo aumento da folha salarial, agravado com contratações milionárias, totalmente fora da realidade brasileira.

Como resultado disso, os clubes apresentaram em 2013 um déficit superior ao registrado em 2012. As perdas no ano passado foram estimadas em R$ 246,3 milhões, contra R$ 92,7 milhões de déficit registrado no ano anterior, um aumento de 166%.

Para agravar o cenário, a dívida global dos clubes em 2013 foi orçada em R$ 4,24 bilhões, um aumento de 4% em comparação a 2012, quando as despesas somaram R$ 4,07 bilhões.

Isso foi ocasionado pela apresentação de novas dívidas dos clubes em 2012 em seus balanços de 2013. Os números de 2012 foram reapresentados, e isso fez com que as dívidas de 2011 para 2012 subissem 31%. Em três anos, as dívidas dos clubes aumentaram 37%.

Fica claro que os clubes mais tradicionais do país precisam rever imediatamente esse modelo de gestão ultrapassado. Os gastos descontrolados acabam contribuindo para forjar uma realidade marcada pela baixa eficiência em campo. Os times acabam sendo eliminados prematuramente de competições importantes, como foi o caso este ano na Libertadores de Flamengo, Botafogo, Atlético-MG, Grêmio e Atlético-PR.

A bolha financeira do futebol brasileiro é uma realidade, que tem de ser confrontada com uma política austera e profissional.

Fonte:  Lancenet

 

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