O que falta para o futebol brasileiro ser um negócio rentável

O segundo painel do Insights Época NEGÓCIOS, desta segunda-feira (05/05), discutiu os negócios do futebol. Participaram do debate o consultor Amir Somoggi; Luiz Bloch, diretor geral do Museu do Futebol; Cristiano Caús, advogado do Santos; Ricardo Di Sora, gerente de marketing da Puma. “Durante muito tempo era comum ouvir que se faltava dinheiro. Aí veio o dinheiro: somos o sexto mercado entre as ligas. Não era mais o dinheiro o problema, eram o estádios. Agora temos arenas, mas não evoluímos”, disse Somoggi na abertura do painel.

O consultor – especializado em gestão esportiva e que se apresenta nas redes sociais como um “sonhador que vislumbra ver o futebol brasileiro bem administrado” – vê com olhos de decepção dados como os divulgados mês passado pela Pluri: com 28% de queda no valor de mercado dos times nacionais, o Brasileirão agora vale menos que as ligas da Ucrânia e de Portugal, segundo o relatório.

“A solução é dentro dos clubes”, afirmou Somoggi. O especialista crê em uma bolha financeira nas agremiações brasileiras, escondida nos últimos anos pela verba dos contratos de televisão: “2014 será um ano de ajuste. Não veremos estádios lotados porque o produto é péssimo.”

Mas e em relação a clubes menores europeus, que crescem suas receitas mesmo com times médios? “O torcedor brasileiro não gosta de futebol. Gosta de ver o time campeão”, disse. “Não existe a cultura do entretenimento porque o clube, que é quem no fim das contas tem contato com o torcedor, não se esforça para criar isso. Todas as decisões são voltadas para dinheiro imediato e a qualquer custo. Mas, se dá errado, fica a dívida. É preciso ter 30 ou 40 fontes de renda e não só quatro ou cinco.”

Um passo à frente, dois para trás
“Uma gestão dá um passo à frente, mas não deixa isso enraizado no clube. A próxima vem e dá um passo para trás”, afirmou Ricardo Di Sora, gerente de marketing da Puma. O advogado Cristiano Caús engrossou o coro: “Ficar limitando o mandato acaba com projeto de longo prazo. Não tem clube que sobreviva assim.”

Caús aposta na aquisição e retenção de jogadores de nome no plantel das equipes para manter o engajamento com o torcedor: “Você precisa de ídolos para manter uma relação próxima com o consumidor. Mas é necessário que o marketing esportivo seja trabalhado junto, porém ele não é visto dessa forma – é mais um departamento comercial. O clube não pode viver só de paixão.”

Não é só de títulos que um clube vive
Os especialistas defendem que a atual necessidade do brasileiro de ver seu time campeão deve ser trabalhada para se tornar uma cultura de fidelidade e consumo. “Hoje, a desculpa é sempre que o time precisa ser campeão. Tem que parar com essa história de que campeão é tudo na vida. Quando o Barcelona não é campeão, o fã tailandês não chora nem sofre, mas mantém essa ligação com o clube”, diz Somoggi.

Para provar seu argumento o consultor citou a Argentina. “Lá, torcedor do River [Plate] ou do Racing sabe que quem comprou a cadeira é dono daquele lugar. Raríssimas vezes deixam de ir [aos jogos] e, se não vão, vendem para alguém que vai”, afirmou.

A crítica sobrou também para os novos estádios da Copa do Mundo. “O sócio paga 200 reais para a diretoria em uma cadeira e a CBF muda uma partida para Cuiabá. Quero ver se ele vai querer continuar pagando a mensalidade”. Para ele, o conceito multiuso das novas arenas, principalmente das que não possuem clubes grandes nas proximidades, atrapalha a fidelização e não vai pagar a conta.

“O problema é estrutural”, rebateu Di Sora. “Precisamos de soluções. Se uma delas é jogar longe, isso deve virar um projeto. Mas o que acontece quando a Confederação dá uma ‘canetada’ [muda data e local das partidas]? Técnico critica, o departamento de marketing não é envolvido… não precisa ser uma grande catástrofe, mas dá pra ser mais organizado.”

Patrocinadores são a solução?
Praticamente um consenso entre os integrantes do painel desta tarde, os patrocinadores foram apontados como agentes transformadores do ambiente dentro dos clubes, uma vez que as equipes dependem das parcerias. “É quem pode dizer: ‘Eu só boto dinheiro nos clubes bem administrados’. É meio utópico, eu sei, porque a gente sabe que, se isso acontece, o concorrente vai lá e fecha. Mas eles são parte muito importante do cenário e poderiam, sim, ser propagadores dessa mudança”, disse Somoggi.

A reprovação, neste caso, é em relação ao grande número de clubes financiados por empresas estatais. “Antes tínhamos patrocínios ‘menos emoção e mais razão’, como a LG com o São Paulo, a Samsung com Corinthians e Palmeiras. Mas, até hoje, eu nunca entrei em um clube de futebol e me perguntaram se estávamos satisfeitos com a parceria, se nossos objetivos seriam atingidos ou as metas batidas”, afirmou o gerente da Puma.

 

Fonte: Época Negócios

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