Aconteceu na tarde desta quinta-feira, em Las Vegas (EUA), o aguardado encontro entre Anderson Silva e a Comissão Atlética do Estado de Nevada. Após dois flagras no doping no início do ano, o brasileiro se encontrou com a Comissão para apresentar sua defesa no caso e esclarecer as dúvidas dos representantes.
Depois de mais de duas horas de depoimentos desencontrados, inconsistências e muitas falhas na defesa do lutador, o ex-campeão dos médios do UFC pegou uma suspensão de um ano, perdeu a bolsa de US$ 200 mil (cerca de R$ 700 mil) pela vitória contra Nick Diaz, recebeu uma multa de 30% no valor de US$ 800 mil (cerca de R$ 2,8 milhões) recebido pela apresentação no UFC 183 e ainda terá de arcar com os custos dos exames e investigações em relação ao caso.
Como a pena é retroativa, o lutador estará apto a voltar a lutar após o dia 31 de janeiro de 2016.
O encontro entre Anderson e a Comissão foi longo. Depois de aguardar por quase três horas, o lutador ficou diante da Comissão Atlética de Nevada acompanhado de Ed Soares, seu empresário, Michael Alonso, seu advogado, e Paul Scott, escalado pela equipe de Spider como especialista em doping após trabalhar em um laboratório credenciado pela Wada (Agência mundial antidoping) entre 2004 e 2006.
Depois de ouvir a introdução de Chris Eccles, procurador geral da comissão, os membros da bancada ouviram a defesa de Alonso, que explicou sua intenção de conflitar dois laboratórios que apresentarem diferentes resultados sobre o doping, as considerações de Scott e, enfim, as palavras de Anderson Silva. Todos os membros da defesa de Spider apresentarem inconsistências.
Para começar, a primeira pergunta da comissão a Spider foi em relação ao estimulante sexual usado por ele – este foi usado na defesa como a justificativa do “suplemento”que teria sido contaminado por metabólitos de anabolizantes. Logo de cara Spider mostrou irritação e não cooperou com a comissão, que questionou o uso de tal estimulante sexual e o motivo de não ter procurado um médico antes de ingerir uma substância desconhecida.
– Primeiro, é um assunto pessoal, meu, não tenho que falar o que eu estava tomando. Eu não pude ir ao médico pedir essa prescrição. Era uma garrafinha azul. O que tinha na garrafa azul era uma espécie de estimulante sexual que um amigo me trouxe da Tailândia. Não fui ao médico porque esse tipo de suplemento não se encontra Estados Unidos e nem no Brasil. É um assunto pessoal. É um estimulante, para quê tomamos estimulante sexual? – salientou Spider, que no início de seu depoimento deu a entender que desconhecia a origem e o nome do estimulante ingerido.
Momentos depois, ele deu nome ao amigo que lhe forneceu o produto e chegou a citar o nome de “Cialis” (estimulante sexual conhecido nos EUA) para falar da substãncia ingerida, o que chamou a atenção da comissão devido a mudança de discurso – antes ele não sabia o nome, depois citou um outro, mesmo sem confirmar que, de fato, era o produto usado.
– Minha falha foi não ter falado que tomei o Cialis. Para que eu ia falar isso para os outros? É algo pessoal. Não queria falar. Se isso não estivesse contaminado, não iam saber também que tomei. Meu amigo falou que era uma espécie de estimulante sexual que ele falou que era bom. Eu falei “ok” – detalhou, revelando que o nome do amigo que lhe deu a substância é Marcos Fernandes.
A segunda contradição foi em relação a data do uso. Anderson alegou inicialmente ter usado o produto pela primeira vez três meses antes da luta e a última no dia 8 de janeiro. Um cientista foi consultado durante a audiência e disse que a drostanolona (metabólito de anabolizante) não poderia ter sido detectado no dia 31 de janeiro se consumido pela última vez na data alegada por Spider. O profissional declarou que o exame não poderia apontar a substância no organismo devido ao ciclo. Após isso, Anderson disse ter tomado uma outra vez na noite anterior a sua chegada a Las Vegas para o UFC 183, no dia 27 de janeiro.
Spider admitiu o uso de benzodiazepina e diazepam, ansiolíticos ilegais, na noite anterior a seu retorno ao octógono. Ele não contestou a acusação a respeito de tal uso e declarou ter usado o medicamento para combater uma dor nas costas e a ansiedade na noite anterior à luta com Nick Diaz. O atleta também não reconheceu o erro de ter se medicado sem a aprovação da comissão na noite antes da luta.
Michael Alonso, advogado de Spider, e Paul Scott, especialista em doping contratado pela equipe, apresentaram diversas falhas ao apresentarem argumentos, mas não levarem provas ou documentos que sustentassem suas teses à comissão atlética. No fim, os membros da mesa deram seus julgamentos finais.
Francisco Aguilar , chairmain da comissão, recomendou os 12 meses de suspensão a Anderson Silva por testemunho inconsistente. Já Pat Lundvall, entendeu que Spider falhou ao preencher o questionário médico pré-luta e omitir o uso de ansiolíticos. O Comissário Anthony Marnell reclamou que não pôde entender toda a história devido aos depoimentos desencontrados e desconfiou que Spider usou alguma substância para acelerar seu retorno após a lesão na perna, além de duvidar que a defesa de Spider tenha apresentado a verdade. Por fim, Raymond “Skip” Avansino disse ver o estimulante sexual usado por Spider como um mascarante.
Além das punições anunciadas, Anderson Silva terá de passar limpo por um teste antidoping antes de obter a nova licença para seu retorno ao octógono.
Fonte: LANCENET!