Após Copa de 2006, estádios alemães foram 'adaptados' para gosto do público

A Copa do Mundo de 2006 ajudou a modernizar os estádios alemães e contribuiu para desenvolver ainda mais a experiência de assistir a futebol no país, que ostenta as melhores médias de público do mundo.

 

Essa média, que já era alta antes da Copa, aumentou com a ampliação da capacidade dos estádios, construídos ou reformados para o torneio levando em conta não somente o chamado “padrão Fifa” exigido pela organização para a competição, mas também o gosto dos torcedores alemães em geral.

Na temporada 2004/5, a popularidade do campeonato alemão já era alta, com uma média de pouco mais de 35 mil torcedores por jogo, mas depois da Copa do Mundo o número disparou e alcançou o seu auge em 2011/12, com a marca média de 45 mil pessoas. O Brasileirão 2013 teve uma média de público de 14.951, que é menor do que a segunda divisão alemã, que em 2013 teve pouco mais de 17 mil torcedores por jogo.

“O futebol com certeza se tornou um evento mais social em grande parte por conta da infraestrutura que foi construída, que teve impacto em como se vivência um dia de jogo”, disse à BBC Brasil Tim Jürgens, redator-chefe da revista especializada em futebol Elf Freunde.

Ao todo foram construídos sete novos estádios e cinco arenas passaram por reformas. Com um investimento total de 1,4 bilhão de euros (cerca de R$ 4,2 bilhões), foram criadas arenas onde se tem uma melhor visão do campo, mais conforto e segurança – e que atraíram novos espectadores, aumentaram a venda de ingressos e trouxeram aos clubes novas possibilidades de marketing e patrocínio.

“Se há um estádio novo, por um ou dois anos há um efeito da novidade, já que todos querem ver a estrutura e, portanto, você tem um aumento no público que pode ser mantido se as pessoas gostarem da experiência”, analisa Holger Preuß, Professor de Economia do Esporte na Universidade Johannes Gutenberg, de Mainz, na Alemanha.

Bayern de Munique

O Bayern de Munique resolveu aproveitar a Copa de 2006 para aposentar o antigo estádio, onde foram realizados os jogos Olímpicos de 1972, e construir uma nova arena.

A obra foi paga pelo próprio clube, em conjunto com o time arquirrival da mesma cidade, Munique 1860. Com o novo estádio, o Allianz Arena, inteiramente coberto – em contraste com o Estádio Olímpico antigo, em que metade dos assentos não eram protegidos da chuva -, o Bayern de Munique passou a ter lotação máxima, de 71 mil pagantes, em todos os jogos.

De acordo com a publicação Deloite Football Money League, o clube arrecada, por cada dia de jogo, 3,4 milhões de euros (cerca de R$ 10,3 milhões) em entradas.

Para ajudar a manter cheios os estádios, é comum entre os clubes alemães a prática de sempre disponibilizar entradas e passes para a toda a temporada a preços mais acessíveis. Por 140 euros (R$ 453), é possível assistir a todos os 17 jogos em casa do Bayern no campeonato alemão. Individualmente, o ingresso mais barato custa 15 euros (R$ 45).

O presidente do clube, Uli Hoeness, já deu declarações polêmicas para marcar a distinção entre o campeonato alemão e o campeonato inglês, que tem a fama de ter ingressos caros. “Nós não pensamos que os torcedores são vacas a serem ordenhadas. O futebol tem que ser para todos. Esta é a grande diferença entre nós e a Inglaterra”, disse.

Fora do padrão Fifa

Após o mundial, muitas das regras da Fifa em estádios alemães foram deixadas de lado para se adaptar à cultura local e manter a vibração dos jogos da Bundesliga. “Os estádios modernos ficaram mais seguros, mas era claro que depois da Copa deveria voltar a haver lugares para assistir ao jogo em pé, por exemplo, e isso parece ter sido esquecido no Brasil neste momento”, diz Thilo Danielsmeyer, especialista em fãs de futebol do Fan Projekt, organização que intermedia torcedores e clubes/autoridades na cidade de Dortmund.

O Borussia Dortmund tem a melhor média de público do campeonato alemão, com mais de 80 mil torcedores por jogo, e conta com uma das maiores torcidas da Alemanha.

O setor equivalente à “geral” de Dortmund, onde torcedores pagam um preço mais barato e assistem os jogos de pé, fica na arquibancada norte do estádio Signal Iduna Park. Chamada orgulhosamente pelos torcedores de Gelbe Wand (ou a muralha amarela, na tradução livre), a arquibancada concentra mais de 25 mil pessoas, inclusive as torcidas organizadas do time.

Durante a Copa, foram instalados assentos no local provisoriamente, o que volta a ocorrer durante jogos oficiais da Uefa, como a Champions League, que também proíbe torcedores em pé.

Além disso, após a Copa, voltaram os bumbos e bandeirões não permitidos pela Fifa. No campeonato alemão, todos estes ítens são permitidos, mas têm que ser registrados previamente e obedecem a critérios de segurança.

Um estudo feito pela Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, dirigido por Holger Preuß, conclui ser necessária uma adaptação “local” nos estádios após grande eventos internacionais. O público da Copa do Mundo é bem diferente do público do campeonato alemão, já que os torcedores do mundial têm um poder aquisitivo maior e são mais bem instruídos, vê o estudo.

“O Brasil mais adiante não deve copiar o padrão Fifa, mas desenvolver os estádios de futebol para a socialização dos torcedores brasileiros e do comportamento local”, sugere Preuß.

 

Fonte: BBC Brasil

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