Foram realizados 113 testes antidopagem. Resultados são encaminhados diretamente às federações internacionais
Para os fãs do esporte, os nove eventos-testes para os Jogos Olímpicos já realizados no Rio de Janeiro entre julho e agosto – vôlei, triatlo, remo, hipismo, vela, ciclismo de estrada, maratona aquática, vôlei de praia e canoagem velocidade – fizeram com que a capital fluminense pudesse viver um pouco do clima que reinará na cidade a partir do dia 5 de agosto de 2016, quando será realizada a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.
Entretanto, se o público em geral estava interessado apenas no que rolava nas quadras, nas estradas, nas raias ou nas areias, um trabalho intenso foi realizado nos bastidores e envolvia vários setores, entre eles um fundamental: o controle de dopagem.
Das nove modalidades que já realizaram seus eventos-testes, apenas em uma, no ciclismo de estrada, a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) não esteve presente. Em todos os outros, os técnicos puderam atuar em condições similares às que encontrarão nos Jogos Olímpicos e, assim, preparar o terreno para o imenso desafio que terão pela frente em 2016.
“No ciclismo não fomos acionados porque a Federação Internacional explicou que não era uma prova com distâncias oficiais e que o objetivo era, principalmente, testar o percurso”, afirma Martha Dallari, diretora de relações institucionais da ABCD, ressaltando que a atuação da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem está condicionada às decisões das federações internacionais das modalidades.
Nos oito eventos-testes em que atuou, a ABCD realizou 113 testes antidopagem, dos quais 101 foram feitos com amostras de urina e 12 com amostras de sangue. Os resultados dessas análises são encaminhados diretamente às federações internacionais de cada modalidade, que são responsáveis pela divulgação em caso de resultado analítico adverso.
Nesta semana, está sendo disputado o evento-teste de tiro com arco no Rio de Janeiro e, até dezembro, o calendário prevê o mesmo para nove outras modalidades – ciclismo BMX, ciclismo mountain bike, bocha, tênis de mesa, hóquei sobre grama, badminton, canoagem slalom, boxe e tênis. Pelos planos da ABCD, 175 testes antidopagem deverão ser realizados em 2015.
Apesar da importância da atuação nos eventos-testes, o número de testes realizados nessas competições representa uma fatia pequena do trabalho que a ABCD programou até o fim do ano. “Pretendemos fechar 2015 tendo realizado cerca de 2.500 testes no Brasil”, ressalta Marco Aurelio Klein, secretário nacional para a ABCD. Desse total, 45% deverão ser feitos fora de área de competição e o restante durante eventos esportivos de vários níveis (nacionais, internacionais e eventos-testes) disputados no país.
Formação de agentes
Uma das principais vantagens dos eventos-testes é permitir que os agentes de controle antidopagem que estão sendo formados no Brasil possam adquirir experiência em campo antes dos Jogos Rio 2016, vivenciando de perto o ambiente que deverão encontrar durante as competições olímpicas e paralímpicas do ano que vem.
“Uma das tarefas que a ABCD desempenha com especial dedicação é a formação de agentes de controle. Já havia oficiais de controle de dopagem no Brasil, mas agora nós cuidamos da formação deles. Antes, o que existia é que muitos desses agentes vinham de experiência própria. Tinha um ou outro médico que fazia e aí ele chamava alguém, que fazia a escolta, assistia a não sei quantos testes, ficava bacana nisso e virava oficial de controle”, ressalta Martha Dallari.
“A ABCD decidiu por não perder esse conhecimento, mas todos os oficiais de controle de dopagem foram convidados para um curso de formação, para um momento de capacitação específica sobre o novo Código Mundial Antidopagem, sobre a ABCD e sobre o sistema mundial antidopagem, que era algo que eles nunca nem tinham ouvido falar”, destaca a diretora da ABCD. “Muitos sabiam que deveriam seguir o modelo da Wada (Agência Mundial Antidopagem, na sigla em inglês) e, em caso de dúvida, consultar o site da Wada. Mas era só isso. A gente cuidou dessa capacitação para que eles soubessem que o trabalho deles faz parte de uma cadeia de ações que funciona no mundo todo”.
Para assegurar a qualidade da certificação, a ABCD desenvolveu um método de formação que consiste em três etapas: missões supervisionadas, prova escrita e missão de certificação. O cumprimento dessas etapas garante que o pretendente esteja pronto para receber a certificação ABCD, cujo processo é coordenado pelo português Luiz Horta, especialista no assunto e consultor internacional contratado pela UNESCO para a ABCD.
“Precisamos de pessoas qualificadas e certificadas para trabalhar tanto como oficiais de controle quanto oficiais de coleta de sangue. E são esses oficiais certificados que estão atuando nos eventos-testes”, explica Martha Dallari.
Atualmente, existem no Brasil 24 oficiais de controle de dopagem certificados pela ABCD para trabalhar na coleta de amostras de urina. Outros nove oficiais estão certificados para coletar sangue e três possuem as duas certificações. Esses oficiais estão se revezando durante os eventos-testes. Segundo Martha, cerca de 200 oficiais de controle deverão trabalhar durante os Jogos Rio 2016. Do total, cerca de 100 deverão ser formados pela ABCD.
Desafios surpresas
Martha Dallari lembra que em duas ocasiões a ABCD teve sua capacidade de resposta testada de forma marcante durante os eventos-testes. “No evento do remo, os testes antidopagem, devidos a problemas climáticos, foram antecipados em um dia na última hora. Onze pessoas se mobilizaram para cumprir a tarefa, que foi toda acompanhada de perto pelo diretor médico do Comitê Olímpico Internacional, Dr. Richard Budgett, e pelo presidente da Federação Britânica de Remo, Andy Parkinson, que é ex-presidente da UK Anti-Doping, a Agência Antidopagem da Grã-Bretanha. Ou seja, nós tínhamos dois especialistas no assunto acompanhando o evento-teste e ambos elogiaram bastante o trabalho da ABCD”, recorda.
“O outro foi com a FINA (Federação Internacional de Natação). Ela ia fazer o evento-teste para a maratona aquática no qual o essencial era testar o percurso, a cronometragem e outros setores. Não estava previsto o controle de dopagem até a quinta-feira (21.08) à noite (o evento foi disputado nos dias 23 e 24 de agosto). Mas, depois de uma conversa com Eduardo De Rose, responsável pelos assuntos referentes à antidopagem no Comitê Rio 2016, eles decidiram fazer. O Eduardo me ligou, arranjamos material extra para uma outra estação em menos de 36 horas (a ABCD estava atuando no evento-teste da vela naquela semana) e deu certo. Testamos os atletas, fizemos quatro coletas e o diretor médico da Federação Internacional de Remo que estava no evento-teste falou que a operação foi um sucesso”, diz Martha.
Durante os eventos-testes, preparar a estrutura física da área onde serão feitos os testes antidopagem está entre as responsabilidades do Comitê Rio 2016. A ABCD, além dos profissionais, entra com todo o material de coleta, que consiste em mais de 20 quilos de equipamentos, entre kits para amostras de urina e sangue, refratômetro (instrumento que medem a densidade da urina), itens de higienização, jalecos e outros.
Para Marco Aurelio Klein, a possibilidade de atuar em conjunto com o Comitê Rio 2016 é outro aspecto importante dos eventos-teste. “Um ponto extremamente positivo é justamente permitir que a ABCD e o Comitê Rio 2016 trabalhem juntos no combate à dopagem e isso tem sido feito de forma muito eficiente nos eventos-teste”, encerra Marco Aurelio Klein.
As análises de todas as amostras colhidas durante os testes antidopagem realizados pela ABCD são feitas pelo Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), que integra o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (LADETEC), vinculado ao Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O LBCD foi totalmente reformado e recebeu equipamentos de ponta para atuar durante os Jogos Rio 2016 e já é um dos importantes legados dos Jogos para o Brasil.
Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br
Fonte: Ascom – Ministério do Esporte