Evolução esportiva ou submissão financeira?

Gustavo Normanton Delbin – Presidente do IBDD

Na vida, a evolução nasce da necessidade.

 

Adaptar-se, na maioria das vezes, pode ser ruim para alguns, traumático para outros ou até considerado um “mal necessário” na busca pela sobrevivência. 

No esporte não é diferente.
 

Este raciocínio deriva de caso específico, envolvendo uma equipe esportiva, de modalidade olímpica e uma empresa de telecomunicações, em transmissão de partida internacional amistosa, em horário tido como “nobre”.
 

A modalidade em comento é o handebol, a Seleção é a atual campeã mundial feminina da categoria e a emissora é a Rede Globo.
 

No último domingo, o duelo envolvendo a Seleção Brasileira de Handebol Feminino e as atuais bicampeãs olímpicas da Noruega foi disputado em dois tempos de 20 minutos para adequar-se à grade dominical matinal da Rede Globo.
 

Ocorre que as partidas oficias da modalidade, de acordo com as regras da Federação Internacional, são de 60 minutos de jogo, disputados em dois tempos de 30 minutos. Entretanto, por um acordo firmado entre a Confederação Brasileira da modalidade e a emissora, a partida foi transformada em uma exibição, uma vez que não se pode considerar a partida sequer como amistosa pela sua duração extraoficial. A justificativa apresentada foi a possibilidade de se promover a modalidade na maior rede de televisão do país.
 

Pois bem, pergunto especificamente para os adeptos do handebol: há ginásios cheios na modalidade no Brasil? Existem competições atrativas? Os patrocínios são consideráveis? Há apelo e apoio da mídia da forma em que a modalidade se encontra?
 

Creio que – infelizmente – a resposta seja negativa para todas estas perguntas.
 

Não há verdade absoluta e, por mais que existam defensores da ideia da imutabilidade, pode ser necessário adequar-se, evoluindo sempre.
 

Para trazer argumentos para este debate, duas premissas: (i) as emissoras de TV reclamam de modalidades com jogos muito extensos no Brasil e (ii) há quem diga que o futebol não tem apelo nos EUA por falta de “tempos” e intervalos, dificultando a divulgação de marcas patrocinadoras nos 45 minutos de cada tempo, com um intervalo de apenas 15 minutos.
 

Diante disso, algumas colocações: (i) como se explica o sucesso da liga de baseball americana e seus jogos de – muitas – horas? (ii) como se explicam os jogos de basquete que duram tanto tempo – mas tem suas diversas paralisações – e batem recordes de audiência? (iii) o futebol se adequou comercialmente à sua falta de intervalos, com a  colocação de placas de publicidade móveis em campo, sem necessariamente alterar suas regras. (iv) na Fórmula 1, além de diminuir os números de voltas e ter limitador do tempo total de transmissão, mudando a regra portanto, a televisão brasileira coloca as marcas dos patrocinadores, de tempos em tempos, no canto da tela (e um narrador anuncia os nomes das empresas); neste caso a televisão italiana – país aficionados  em automobilismo – fazia intervalos comerciais, deixando um retângulo superior com imagens da corrida ou, ao contrário, com imagens de comerciais durante a corrida; (v) o vôlei modificou suas regras, abandonando as vantagens, com sets mais rápidos e intervalos técnicos, chamados de “tempo da TV” para se tornar atrativo. Isso para dar apenas alguns exemplos.
 

É sabido que o esporte precisa ser mantido, e esta manutenção custa dinheiro. Se não houver dinheiro para sustentar a modalidade, sou completamente a favor da evolução, ou seja, das mudanças.
 

Sendo assim, voltando ao handebol, se o jogo for modificado para se tornar mais atrativo, com transmissão “ao vivo” por canais abertos, os atletas, treinadores, árbitros serão melhor remunerados, a modalidade ganhará mais espaço na mídia, os patrocinadores aparecerão, tudo isso gerará um ciclo virtuoso que pode repercutir diretamente nos resultados esportivos. O que não pode, na minha opinião, é mutilar uma partida entre seleções campeãs apenas para se economizar 20 minutos de tempo de transmissão, sob a suposta justificativa de se expor a modalidade ao grande público.
 

Mas ainda assim, para deixar qualquer analista confuso, outros fatores que espantam as certezas: (i) a Seleção Brasileira de Handebol Feminino é Campeã Mundial (ii) mas suas atletas são amadoras no Brasil (iii) a maioria joga na Europa (iv) não há campeonatos brasileiros rentáveis (v) o patrocínio é de empresa estatal. E ainda, (vi) o esporte é apaixonante (vii) teremos Jogos Olímpicos no Brasil no ano que vem. Apesar de tudo isso, se faz necessário transformar uma partida amistosa preparatória para os Jogos Pan-americanos entre as campeãs mundiais e as bicampeãs olímpicas, em partida de exibição para se mostrar na TV aberta no domingo de manhã?

E agora, como definir? Evolução esportiva ou submissão financeira?
 

 Em tempo, o resultado da exibição foi Brasil 18, Noruega 12. Pelo que se publicou na imprensa especializada, jogadoras e treinadores não gostaram da diminuição do tempo. A audiência, segundo o Portal N10 (http://portaln10.com.br/audiencia-da-tv-confira-os-consolidados-deste-domingo-14062015/) foi de 8,8% para o Esporte Espetacular.

 

Fonte: Juseconômico

 

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