Água Santa e Clube Atlético de Diadema não disputarão campeonato profissional no segundo semestre do ano e entra para estatística alarmante divulgada pelo Bom Senso FC
Região metropolitana de São Paulo, a cidade de Diadema é a exemplificação do cenário relatado pelo Bom Senso FC sobre a falta que faz um calendário anual para os clubes de menor expressão. Água Santa, da Série A3 do Campeonato Paulista, e Clube Atlético Diadema, da quarta divisão, vivem na pele essa realidade. Ambos podem perder cerca de 40% do elenco na segunda metade do ano em virtude da ausência de competições.
De acordo com o estudo feito pelo Bom Senso FC, “de 684 clubes profissionais, 583 deles não têm um calendário anual (85%); e dos 20 mil atletas profissionais, cerca de 16 mil recebem menos de dois salários mínimos e ficam desempregados por pelo menos seis meses”. A estatística revelada pelo grupo é o futuro de ao menos 21 atletas dessas duas equipes.
É também o caso do volante Serginho, do Água Santa. Aos 33 anos, ele já rodou cerca de 15 clubes do futebol brasileiro, entre eles Guarani e Paraná, e agora corre o risco de ficar desempregado a partir de junho, uma vez que o contrato dele com o clube tem validade apenas até o dia 31 de maio.
“Faço parte de uma equipe nova que não tem perspectiva de calendário para o segundo semestre. Particularmente, eu estou orando a Deus para que o clube resolva disputar a Copa Paulista para eu garantir emprego até o fim do ano. Do contrário, terei de arrumar um outro time para trabalhar ou acabarei desempregado como a maioria. É lamentável”, relatou o jogador ao iG Esporte.
Serginho ainda comentou a situação do futebol brasileiro atualmente. “É muito triste ver toda essa diferença no futebol. Valoriza-se a minoria, enquanto a maioria passa fome com salários miseráveis. Isso é quando você ainda tem sorte de estar em um clube e receber salários…A CBF, assim como as federações, deveriam apoiar o Bom Senso”.
No Diadema, oito dos 20 atletas que estão registrados na FPF (Federação Paulista de Futebol) como jogadores profissionais terão o contrato encerrado até o mês de junho. O número corresponde a 40% do grupo montado pela diretoria para disputar a Segunda Divisão do Campeonato Paulista. Os outros 60% ainda têm idade para disputar torneios com as categorias de base e, por esse motivo, possuem vínculos mais longos.
Com pouco recurso obtido através da bilheteria, os clubes sobrevivem do dinheiro de investidores e da Prefeitura de Diadema, que no ano passado teve o orçamento de R$ 6.336.211,63 para a pasta da Secretaria de Esporte e Lazer. De acordo com o relatório de transferência disponibilizado pela prefeitura, a Liga de Futebol Amador de Diadema recebeu mais de R$ 390 mil em janeiro de 2013 e o Clube Atlético de Diadema recolheu quase R$ 75 mil mensais para a “manutenção programa bola, educação e cidadania”.
Clubes se posicionam…
O cenário é tão problemático que a um mês de terminar a Série A3, o Água Santa ainda não decidiu o que fará no segundo semestre. “Não sabemos o que vamos fazer. Temos a opção de disputar a Copa Paulista, mas não acredito que vamos conseguir. Temos de decidir se vamos preparar um time forte para 2015 e economizar ou se vamos disputar um campeonato visando a preparação”, disse o presidente Paulo Sirqueira ao iG Esporte.
Cético, Sirqueira não acredita em mudanças. “O calendário do futebol brasileiro realmente é muito complicado. Eu acredito, como a própria palavra diz, é necessário tem bom senso para criar regras do calendário. Não há interesse daqueles que mandam em mudar o formato que é hoje. Eu acredito que as manifestações vão continuar, mas não vejo isso ganhando corpo”, acrescentou.
Com uma folha salarial mensal de R$ 120 mil, o Diadema vê a cota repassada pela federação baixa e faz apelo ao Bom Senso. “O valor da cota que a federação repassa é muito baixa. Você tem a vantagem de não pagar a taxa de arbitragem, que ajuda bastante no profissional, mas a cota não paga nem a folha de pagamento do mês. Então, o nosso objetivo é bem claro, que é revelar jogador e emprestar ou negociar”, disse Leonidas Barbosa, coordenador técnico do clube, à reportagem.
“A atitude do Bom Senso FC é louvável. Eu acho que não pode parar por aí, porque é uma batalha dura. Infelizmente para o atleta não é fácil querer mudar algo da noite para o dia, mas não pode desanimar. Esse é o caminho, porque, com certeza, daqui três ou quatro anos, os atletas que estão hoje na base vão conseguir usufruir de um calendário melhor, de uma condição mais humana”, completou.
Veja as mudanças propostas pelo Bom Senso FC
No mês passado durante seminário em São Paulo, o Bom Senso FC apresentou propostas para melhorias do futebol brasileiro. Na ocasião o grupo sugeriu jogos do Brasileirão aos finais de semana e a criação de mais uma divisão nacional, a Série E. No texto divulgado no site, o grupo lista as vantagens para os clubes menores. Leia abaixo:
-Aumento do número de partidas oficiais
– Mais 496 clubes passam a ter calendário anual
– Maior possibilidade de contratos anuais com os atletas
– Geração de renda contínua ao longo do ano
– Perspectiva de crescimento e profissionalização da estrutura do futebol
– Maior previsibilidade e incentivos para patrocinadores locais
Fonte: IG