Diante de mais um domingo violento nos estádios e após rever inúmeras vezes as cenas dos conflitos no Morumbi e no Independência, o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva(STJD), Flávio Zveiter, deu o seu diagnóstico:
— O futebol brasileiro está doente e tem um vírus, que é esse bando de marginais que vai ao estádio para brigar, descumprir a legislação, prejudicar o seu clube e colocar em risco famílias de bem.
Zveiter foi além e comparou o órgão que preside a uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
— Quando chega ao STJD, o problema já aconteceu. Nós somos a ponta final e temos por incumbência apenas punir eventualmente um clube, cuja torcida participou de algum tipo de conflito. ê preciso cuidar da prevenção — disse.
Neste ano, por causa de briga entre torcedores, o STJD já puniu com a perda de mando de campo Corinthians, Vasco e Palmeiras. Para Zveiter, no entanto, as penas aplicadas aos clubes precisam ser revistas e não têm se mostrado eficiente, já que os conflitos têm sido recorrentes.
— Ficar punindo os clubes não é uma solução e não resolve o problema — atesta.
Mas a tendência é o STJD punir com rigor os incidentes do último fim de semana. ê possível que São Paulo, Corinthians, Atlético-MG e Cruzeiro sejam penalizados. No caso do clássico no Morumbi, as imagens mostram torcedores são-paulinos em conflito com policiais. Mas segundo o procurador do STJD, Paulo Schmitt, o Corinthians também pode ser denunciado.
— Ainda vou analisar o material e essa hipótese não está descartada — avisou.
Na partida do Independência foi registrada uma briga entre facções do Cruzeiro. De acordo com Schmitt, porém, o Atlético-MG pode ser punido caso seja provado que, na condição de mandante, contribuiu para a confusão.
INVESTIGAÇâO – Responsável pela investigação da briga entre são-paulinos e policiais militares no clássico paulista no Morumbi, a delegada Margarete Barreto, da Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), disse ter identificado quatro torcedores. No dia do jogo, apenas um menor de idade foi levado à delegacia do Juizado Especial Criminal (Jecrim) do estádio e liberado em seguida.
A delegada não quis revelar os nomes dos torcedores identificados, mas é possível ver Luis Lacerda, ex-presidente da torcida organizada Independente, no meio da confusão. Mesmo ensanguentado, ele distribuiu socos e pontapés e chega tomar o rádio de um policial.
A diretoria da facção confirmou a presença de Lacerda no tumulto, mas justificou que o torcedor apenas revidou após ser agredido pelos policiais.
— É uma questão de ação e reação. Se você tomar uma borrachada na cara você não vai fazer nada? — questiona André Nascimento, relações-públicas da Independente.
Lacerda e os demais torcedores identificados devem ser indiciados por provocação de tumulto e lesão corporal. Se considerados culpados, podem receber como punição a prestação de serviços comunitários.
— Mesmo que eles fossem levados para o Jecrim, só ia ter uma audiência e eles iriam ser soltos. Eu não faço a lei. Às vezes, ela (lei) me incomoda um pouco porque as pessoas estão sempre cometendo crimes, mas não sou eu que faço as lei — disse, resignada, Margarete.
A Polícia Civil instaurou inquérito e está colhendo imagens e depoimentos. A previsão é que as investigações durem 30 dias, mas podem ser prorrogadas se houver necessidade.
— Estamos investigando se houve formação de quadrilha, mas não tenho muita certeza se vai dar — explicou a delegada.
Nesta segunda-feira, a Polícia Militar deu a sua versão para a confusão. Nota oficial divulgada pela corporação diz que o tumulto foi “motivado pelo lançamento de uma bomba caseira da torcida do São Paulo na torcida adversária”. Na sequência, ainda segundo a PM, os policiais entraram em ação para “evitar tentativa da torcida do São Paulo de invadir o local reservado aos torcedores do Corinthians para agredi-los, o que resultou em um confronto entre policiais e torcedores do São Paulo”. Dois policiais ficaram feridos.
Também nesta segunda-feira, a Independente soltou nota oficial na qual afirma que “nada tem com o descontrole de membros da Polícia Militar e o tumulto causado pelo artefato arremessado pela torcida rival”.
Fonte:Estadão conteúdo