O futebol brasileiro perdeu uma grande oportunidade de se profissionalizar e as perspectivas de curto prazo não são animadoras
Amir Somoggi
O banco Itaú BBA acaba de publicar seu estudo sobre a situação financeira dos clubes brasileiros. Segundo a publicação e já antecipado em outros estudos sobre o tema, o ano de 2013 foi bastante complicado para o futebol brasileiro.
A retração das receitas e aumento das despesas produziu um resultado muito negativo no ano passado. A conclusão é que o futebol brasileiro perdeu uma grande oportunidade de se profissionalizar e as perspectivas de curto prazo não são nada animadoras.
O relatório do banco traz dez recomendações para melhorar a gestão dos clubes brasileiros, chamadas de práticas corporativas aplicadas ao futebol. Mesmo os clubes não sendo empresas, as entidades podem instituir mudanças em sua administração, influenciadas por boas práticas empresariais. Essas foram as sugestões citadas pelo Itau BBA:
Aplicação de um orçamento aberto, com a publicação das estimativas de receitas, custos e investimentos no início de cada temporada amplamente divulgado para sócios e torcedores. Além disso, a apresentação de balanços trimestrais como as empresas de capital aberto, para que todos possam acompanhar a execução do orçamento apresentado durante o ano.
Criação de uma política de limites de gastos alinhada com a geração de receitas recorrentes, excluídos os recursos gerados com as transferências de atletas. Essa iniciativa reduziria drasticamente os déficits e permitiria que as receitas com atletas fossem usadas para pagamentos de dívidas e investimentos. Adicionalmente a remuneração por performance para os jogadores, fazendo com que os ganhos dos atletas estivessem atrelados ao bom desempenho em campo.
Aproximação com o bom cliente, criando projetos claros para que o verdadeiro torcedor possa consumir cada vez mais e ser tratado como cliente preferencial. Nesse ponto o estudo é enfático na necessidade de distanciamento das torcidas organizadas.
Incluir no foco da gestão a prioridade de investimentos estruturais, especialmente as categorias de base e não somente em jogadores caros. Esses valores se revertem em pesadas despesas para os clubes e em muitos casos acabam emprestando atletas para outros clubes, com os salários bancados pelos que o contrataram.
Criação do Conselho de Administração para que a gestão não seja tão influenciada pelas decisões políticas, tão comuns nos clubes por conta dos Conselhos Deliberativos. Outro ponto destacado é a aplicação do Plano Estratégico, para que a gestão tenha uma visão de longo prazo, especialmente da comissão técnica e elenco.
O cuidado com a cultura esportiva do clube também foi citado, para que sua identidade tática seja preservada, desde a categoria de base até o time profissional. E finalmente, criar uma boa relação entre o clube e seus atletas, afastando intermediários, que segundo o banco enfraquecem as categorias de base e criam um círculo vicioso em sua gestão.
As recomendações sugeridas pelo estudo não são fáceis de ser implementadas, mas fundamentais caso queiramos mudar de patamar o nosso futebol. Dirigentes mais preparados e conceitos sólidos de administração empresarial são os únicos caminhos para que os clubes tenham uma gestão muito mais eficiente do que a praticada no modelo atual.
Fonte: LANCENET!