Wada descredencia Rússia e mais 5 países, e Brasil fica sob observação

O conselho da Agência Mundial Antidoping (Wada) se reuniu nesta quarta-feira em Colorado Springs, nos Estados Unidos, e tomou medidas severas para controlar o escândalo de doping do atletismo russo. O órgão internacional declarou que a Agência Antidoping Russa (RUSADA) não está em acordo com o código da Wada. Outros cinco países também tiveram suas agências descredenciadas: Andorra, Argentina, Bolívia, Israel e Ucrânia. O Brasil entrou em uma lista de observação, junto com Bélgica, Espanha, França, Grécia e México, e tem até o dia 18 de março para cumprir as exigências da Wada, ou também será desacreditado.

– A mensagem do conselho da Wada é clara: haverá agora foco maior no fortalecimento do trabalho de concordância para que todas as organizações antidopings do mundo sejam responsabilizadas por entregar programas antidopagem robustos. Como vimos a imediata resposta ao relatório da comissão independente da Wada, a ação agora está bem encaminhada para corrigir os erros que existem no antidoping – disse Sir. Craig Reedie, presidente da Wada.

Os países descredenciados não responderam completamente às solicitações da Wada. Foi descoberto que Argentina, Bolívia e Ucrânia têm utilizado laboratórios não acreditados, o que é uma violação do código da Wada. Andorra e Israel, por outro lado, foram descredenciados por não terem regras antidopings suficientemente eficazes e não terem demonstrado qualquer movimentação para mudar isso. Estes países, porém, não estão suspensos como a delegação russa foi no atletismo, apenas suas agências nacionais foram desacreditadas e não podem conduzir qualquer operação até a qualidade dos programas antidopings sejam reinstaladas.

O Brasil e os outros cinco países que entraram na lista de observação precisam satisfazer as condições estritas estipuladas pela Wada até março para não serem descredenciados também. A Wada ainda não detalhou tais condições exigidas aos países em observação. A Autoridade Brasileira de Controle Antidopagem (ABCD)  se posicionou sobre o assunto na noite desta quarta, afirmando que o grande problema do Brasil é a dificuldade de respeitar o limite máximo total de 60 dias para que qualquer processo disciplinar seja completado, porque há os níveis de julgamento nos estados (federações estaduais) e federais (confederações), o que atrasa o andamento dos processos.

– A melhor e mais justa forma de enfrentar e resolver esta questão é termos um tribunal (com representatividade de todos os esportes) especializado em casos de dopagem. Técnico, portanto. Isto permitiria menos níveis de julgamento e o atendimento ao disposto no novo Código sem a necessidade de mudar o dispositivo da Constituição, que protege atletas – afirmou o secretário nacional da ABCD, Marco Aurélio Klein.

O médico brasileiro Eduardo De Rose, membro da Wada, esteve presente na reunião em Colorado e explicou a situação do Brasil junto ao órgão.

– A Autoridade Brasileira de Controle de Doping não está de acordo com a legislação da Wada. Sete países que não estavam de acordo, mas que estavam fazendo esforços, terão até 18 de março para estar de acordo. É preciso ser feita uma lei de ajuste para acertar isso. Mas isso o governo brasileiro já sabe, a Wada já foi no Brasil, um documento já foi estruturado e tudo foi acordado, até onde sei. Eu espero que o governo brasileiro tome as providências necessárias para garantir que o Brasil não seja excluído. Em termos de laboratório, posso dizer que a ação do governo foi excelente. Um laboratório novo, com equipamentos novos. Já está credenciado e trabalhando. Isso é extraordinário e um dos legados do Rio 2016 – disse De Rose.

Apesar de Wada já ter sido alertada por um evidente uso de doping no Quênia, o país africano sequer entrou na lista de observação. Provavelmente, isso foi fruto da criação de uma nova agência antidoping no país logo após a divulgação do escândalo russo de dopagem. O Quênia, porém, continua sob investigação da Wada.

– Nossa prioridade agora é garantir que todos os nossos parceiros estejam em conformidade e tenham sistemas antidopings sólidos para protegerem atletas limpos e, assim, tranquilizar os fãs do esporte. Não se enganem, não vamos apressar esse processo de conformidade. Vamos fazê-lo da maneira certa – disse Craig Reedie.

A Agência Mundial Antidoping não tem poder para suspender delegações ou atletas, apenas pode desacreditar agências nacionais e laboratórios. Assim, os atletas dos países descredenciados nesta quarta-feira na reunião do conselho podem competir normalmente, apenas terão seus exames antidopings analisados fora de seus países.

– Existe um código que a Wada implantou há dois anos atrás e os governos tiveram dois anos para adaptarem suas leis. A Wada estava sendo cobrada por não tomar uma atitude mais forte. No momento que se definiu o que seria feito, 80% dos países ajustaram sua legislação. Isso não é feito para mostrar autoridade e sim para mostrar aos países que eles têm um tempo para entrar no sistema internacional antidoping – explica De Rose sobre a reunião nos EUA.

Por enquanto, apenas o atletismo da Rússia, alvo da investigação divulgada pela Wada no dia 9 de novembro, está suspenso por decisão da IAAF (Federação Internacional de Atletismo). A Rússia já se mostrou disposta a criar uma nova agência antidoping e a cumprir as exigências e sugestões da Wada, da IAAF e do COI (Comitê Olímpico Internacional).

– Antidoping no esporte hoje está sob os holofotes como nunca foi visto antes, e a Wada, juntamente com nossos parceiros, começou o trabalho necessário na caminhada para recuperar a Rússia. O mundo está assistindo, e precisamos agir – disse o presidente da Wada.

Em teoria, os países considerados em discordância com o código da Wada correm o risco de ficarem fora das Olimpíadas de 2016. Na prática, tal medida está longe de se tornar realidade. Mas os seis países podem sofrer sanções do COI.

 

Fonte: Globo Esporte

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